sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Quais os efeitos de uma cultura com lacunas de valores?

Para responder à essa questão, vamos focar nos sistemas empresariais ou qualquer sistema que possui um grupo de pessoas que está buscando alcançar uma meta comum ou atingir determinados objetivos que também as beneficie. E que esses sistemas possuem um conjunto de valores e crenças compartilhadas, ou pelo menos, que deveriam ser compartilhadas. Esse tema tem que ser colocado na mesa quando falamos de cultura organizacional e Jornadas de Transformação, porque é bastante relevante e crítico compreendê-lo, visando identificar os efeitos causados nas pessoas envolvidas e no próprio sistema. Os efeitos podem trazer consequências negativas que impactam os resultados de forma geral.

Culturas distorcidas

Os impactos de uma cultura com lacunas de valores

O tema relacionado à lacuna de valores se refere ao gap existente entre o que “falamos”, defendemos e sustentamos nas declarações com o que realmente praticamos e colocamos em ação. Evidentemente, que tem relação direta com as pessoas envolvidas nesses sistemas, pois o sistema não é uma entidade personificada, com nome e CPF. Ao contrário, são as pessoas que formam o sistema e que geram as lacunas de valores nos ambientes.

Para esclarecer bem o termo, vamos trazer a definição da escritora René Brown abordada no livro A coragem de ser Imperfeito sobre a lacuna de valores. Para a autora, a lacuna se refere à distância entre as virtudes praticas (o que, de verdade, nós fazemos, pensamos e sentimos) e as desejadas (o que desejamos fazer, pensar e sentir). Ou como ela chama de “fronteira da falta de motivação”. E continua, “Quando essas fronteiras chegam num grau intolerável, ocorrem os efeitos e impactos nas pessoas”. Acrescenta ainda que “quando nossas virtudes praticadas estão frequentemente em conflito com as expectativas da cultura que nos cerca, o descomprometimento é inevitável’.

Essa definição se adequa perfeitamente em outros sistemas também, como por exemplo os familiares, entidades religiosas, partidos políticos, governamentais e sociais, já que todos os sistemas têm como princípio formar e instituir crenças e valores que norteiem os envolvidos, com o propósito de assegurar comunhão e sentido de pertencimento, uma Identidade.

Diante dessa definição, vamos dar cor ao tema e explorar os efeitos e as consequências partindo de situações que observamos e enfrentamos ao lidar com as culturais organizacionais.

Infelizmente, é muito comum nos deparar com culturas distorcidas ou com lacunas de valores, como define a escritora René Brown. Muitos ambientes corporativos apresentam um conjunto de valores e crenças que, normalmente, não condizem com o que se pratica no dia-a-dia. Não é raro adentrar o sistema e perceber que, muitas das declarações na parede ou, hoje em dia, nos websites, facebooks e outras mídias, não estão sendo praticadas como descritas.  

As causas para esse cenário são variadas e diversas. Mas uma coisa é certa, as pessoas que lideram e vivem dentro desses sistemas são aquelas que contribuem para essa distorção. Muitas vezes, é dito, reforçado e declarado que existe liberdade de expressão, de opinião e que todos podem falar o que pensam. No entanto, em sessões ou reuniões diárias, vemos que essa prática não acontece e que as pessoas se calam e guardam suas opiniões. Além disso, outro cenário de lacuna que identificamos está relacionado com o slogan de um ambiente “cool’, jovial, despojado e liberal, mas verdadeiramente vemos que por atrás dessa imagem declarada escondido o estilo vanguardista e tradicional presentes nas atitudes e comportamentos das equipes e da alta liderança. Mas será que existem empresas alinhadas com os seus valores? Talvez sim, não podemos afirmar 100%. No entanto, o que se observa é que o mais comum é a existência de lacunas e a distorções.

Para trazer mais luz ao debate, apresentamos o Arquétipo da Quadrimembração da Antroposofia, que divide o Indivíduo e o Sistema em 4 níveis que se inter-relacionam. Um desses níveis, que está para ambos os envolvidos – Indivíduo e Empresa – é o da Identidade. Esse nível considera todos os aspectos intangíveis, tanto do indivíduo quanto da empresa, tais como: valores, crenças, objetivos, missão, visão, etc. O nível mais sutil e intangível de todos. Os demais níveis incluem: Relações, Processos e Recursos. Esses níveis conectam o indivíduo e o sistema por meio de pontes que podem ou não ser estabelecidas pela afinidade e nível de aderência e satisfação. Por exemplo, se eu acredito na missão daquele sistema e estou ajustado ao conjunto de valores, a tendência é me conectar no que tange à Identidade, pois estamos em conformidade. Entretanto, quando um dos lados sofre alteração, o outro é afetado automaticamente.  Ou seja, quando algo na Identidade do indivíduo passa por transformação, poderá gerar algum rompimento ou modificação da ponte que o conecta com o sistema e vice-versa. Para tangibilizar o arquétipo, vamos considerar uma situação: Um profissional está vinculado fortemente com a Identidade daquele sistema organizacional no nível da Identidade, isto é, com os valores, crenças, objetivo e missão. No entanto, a empresa é comprada por outra maior e internacional. Isso trará uma mudança significativa na Identidade desse sistema. Se para o indivíduo essa mudança não estiver mais aderente como antes, é muito provável que haja uma ruptura, incômodo e/ou desconforto. Nesse caso, o lado da empresa sofre uma mudança, mas o oposto também pode ocorrer. Quando pensamos em Jornadas de Transformação, é bastante importante levar isso em consideração, uma vez que transformações podem trazer mudanças significativas nos 4 níveis de um sistema/organização, podendo afetar as pontes de alguma maneira.

Impactos de cultura com lacuna de valores

Quais os impactos de cultura com lacuna de valores no nível individual?

Quando existe uma cultura com lacuna de valores, alguns efeitos são ocasionados nas pessoas. Alguns são pouco perceptíveis ou conscientes no início, mas logo começam a trazer consequências mais graves, especialmente para a saúde mental e emocional dos profissionais que atuam no sistema. Alguns exemplos, numa ordem de acontecimentos dos fatos:
  1. Quebra de confiança;
  2. Sensação de estar perdido, desconectado;
  3. Baixo compromisso e comprometimento;
  4. Isolamento ou afastamento “velado”;
  5. Baixa produtividade e desempenho;
  6. Falta de engajamento e motivação;
  7. Desconexão com o sistema (mesmo que fique oculto disfarçado sob distintas formas)
Um ponto crucial desse processo é o rompimento da confiança que, quando ocorre, desencadeia uma série de comportamentos não positivos, podendo abrir espaço para atitudes e comportamentos não condizentes e pensamentos não favoráveis. Como resultado, vão ocorrendo incongruências e desconexões que afetam a relação com o trabalho e o ambiente.
Efeitos na comunidade devido à lacuna de valores

E quais são os efeitos na comunidade inteira desse sistema devido à lacuna de valores?

Para o sistema, os efeitos afetarão diretamente o clima e, especificamente, os resultados no médio e longo prazo. Como as pessoas começam a se sentir menos conectadas, menos comprometidas e engajadas, a probabilidade que a qualidade do trabalho que executa e as relações que estabelece entrem em declínio, prejudicando a entrega e o ambiente em que está atuando.

Para encerrar essa leitura, deixamos uma paleta de cores para você refletir:

Como é a lacuna de valores do sistema ao qual você faz parte? E como você lida com os efeitos e impactos?

Trazendo para uma reflexão mais individual e ampla, reflita sobre: Quão distante você se encontra do que fala e pratica no seu dia-a-dia. E o quanto você contribui para criar culturas distorcidas ou de lacunas de valores.

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